DE ÁGUA SUJA PARA O MELHOR VINHO

 

Você organiza uma festa prometendo muita bebida, chama todos seus familiares e amigos mais amados, faz aquela propaganda da sua festa, e contrata um cara esperto pra gerenciar junto com você como mestre sala. Mas no meio da festa com todo muito ainda muito animado pedindo bebida aos garçons, eles simplesmente vão para a cozinha e não voltam mais, e o pedido de mais bebida dos seus convidados demora a ser respondido. Não tem pra onde você ligar pra fazer uma entrega de bebida de emergência naquele horário, pois tudo é muito longe e ninguém tem em estoque. O que você faz? Você termina a festa? Você pede desculpas para as pessoas para quem você tanto falou que ia ser? Você senta e chora?

Isso aconteceu com um casal judeu a 2000 anos e virou uma historinha interessante e famosa de como água foi transformada em vinho. Alquimia? Talvez, mas a história mostra coisas mais interessantes no seu breve contexto. 

Observe o meio e o fim da história.

 

“E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas. E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho.  Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.

E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes. Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima.E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram.

E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo, e disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.”

João 2:01-10 

 

#AS TALHAS

As talhas dessa festa eram jarros usados nas purificações ou seja, os convidados lavavam suas mãos e pés com essa água. Isso era um costume judeu seguido a risca quando se entrava em algum lugar importante, sempre ao entrar lavava-se mãos e pés como um ato de purificação, claro que estava diretamente ligado a higiene mas para os judeus era algo observado com lei divina. Reflita comigo, não haviam ruas asfaltadas e calçadas limpinhas, e as pessoas lidavam com animais, plantas e muito muito pó, portanto mãos e pés não deveriam ser partes muito limpas do corpo. Mesmo que eles usassem um copinho pra retirar a água da jarra e daí então usá-la, já imaginou como ficaria tanto a água como a jarra? Para os judeus os objetos usados no ato de purificação se tornavam impuros, e mesmo que estivessem limpos (o que é de se duvidar) aqueles jarros estariam impuros aos olhos dos judeus e jamais seriam usados para algo como armazenar alimento ou líquido que seria ingerido.

Então porque Jesus pediu que lhe trouxesse aquele jarros? 

Talvez você responda porque não haviam outros. Mas haviam sim! Oras o vinho acabou então todos os barris e jarras e garrafas usadas para o vinho que havia acabado estavam vazias e estavam ali, e eram mais limpas do que os jarros usados na purificação. Então porque Ele não pediu para trazerem aqueles barris? porque Ele pediu justamente e tão diretamente as talhas usadas na purificação que estavam respingadas de sujeira? 

Provavelmente eu não lhes responderei essa pergunta. Existem respostas que nós humanos não conseguimos compreender, ou que levamos mais tempo do que imaginamos, quem sabe no futuro você mesmo encontre essa resposta. Uma vez ao perguntar isso alguém me respondeu “Ele não estava disposto a misturar o seu vinho puro (que Ele ia criar) com aquele vinho que havia sido servido, pois isso contaminaria o sabor e aroma do novo vinho”.  Mas as talhas estava bem mais sujas para contaminar não é mesmo? Dois prodígios foram feitos ali, o primeiro e mais obvio: Transformar a água em vinho. O segundo e menos obvio: Purificar os jarros que eram impuros.  Uma transformação completa que vai alem daquilo que os olhos podem ver.

#OS SERVOS

Já observou os servos dessa história? Eles com certeza sabiam que o vinho acabou, sabiam que a talha era suja, e que haviam barris vazios mais limpos que elas, e a parte mais difícil, o servo que levou o vinho para o mestre sala sabia que aquele líquido era água da talha suja. Se o senhor daqueles servos soubessem disso e se a água não fosse transformada em vinho (se o plano falhasse), eles seriam severamente punidos, talvez mortos. Aquele servo que levou o líquido para o  mestre sala deve ter ficado apavorado naquele instante. O que esse servo deve ter pensado? Será que seu corpo tremeu com o medo? Será que ele quis chorar quando imaginou o que o mestre sala diria ao beber água suja? Mas note que mesmo apavorado este servo fez. Mesmo parecendo tudo muito louco ele fez. Lembre-se que este foi primeiro prodígio de Jesus na Terra, e que portanto ninguém havia visto um milagre ainda. E sendo algo muito muito muito estranho o servo fez, e ao fazer parte dessa loucura, tornou-se parte dessa história como como um personagem que presenciou o primeiro milagre descrito como sendo de Jesus.

Esses servos não eram servos de Jesus, apesar de Maria ter dito a eles que obedecessem tudo o que ele pedisse, eles não eram servos de Maria também. Mas mesmo não devendo a eles a servidão, fizeram como se assim fossem.

No meio do caminho enquanto o servo obedecia, a água da talha suja virou o melhor vinho da festa. Mas quando exatamente essa água virou vinho? O texto não disse. Apenas disse que entre encher a talha de água e o mestre sala beber dessa água, já não era mais água o que havia ali. Foi no meio tempo entre Jesus ter falado e o mestre sala ter bebido. Mas você já se perguntou em que momento?  O milagre não veio antes, ele veio no meio do caminho.

Note que jesus não falou para o servo dizer que Ele Jesus Cristo todo poderoso fez o milagre, apenas disse pra ele levar ao mestre sala. E aí você precisa mesmos saber de onde ta vindo o teu milagre?

 

#A FESTA CONTINUA

E sobre o mestre sala? E o noivo? Para ambos era dada a tarefa das compras. Quando se organiza uma festa com muitos comes e bebes, os responsáveis fazem aquele cálculo para que não falte nada. Quem calculou errado? Afinal no meio da festa faltou o vinho, e isso não acontece quando os convidados bebem muito, acontece quando se calcula errado, ou quando existem penetras em excesso, não convidados. Em ambas as possibilidades houve uma má gestão da organização desta festa. 

Então o noivo diz que deixou o melhor vinho pro final, que todo mundo serve o melhor vinho no começo, para que bebam com consciência o melhor vinho e quando estão menos sóbrios aí vem o vinho ruim,  indicando que a festa está na reta final.

Mas esse casamento serviu o melhor vinho no final. Na verdade o noivo não sabia que o término do vinho já tinha acontecido, e que sua festa já havia acabado. Ninguém sabia, as pessoas ainda estavam pedindo mais vinho e os servos não estavam circulando mais com vinho entre as pessoas. Será que algum convidado notou isso? Aquele noivo não sabia que esse que julgava ser o último vinho, era na verdade um renascimento da sua festa, um novo tempo de festa.

 

Ao acabar o vinho a festa acabaria, e os noivos passariam vergonha.Pense o noivo na sinagoga e os outros homens falando “aquele é fulano de tal, aquele cara que o vinho acabou antes da metade da festa”, eles seriam envergonhados assim por anos talvez. 

Bem,  esses noivos que foram imprudentes nas compras para a festa do casamento, haviam feito algo que mudaria a realidade deles, e eles nem sabiam disso. Eles convidaram um tal Jesus, esse tal Jesus seria a peça que resolveria o problema. Percebe o que acontece nessa história? Um convite, que talvez tenha sido feito antes da compra ruim, foi decisivo. O convite talvez nem fosse pra Jesus diretamente, talvez fosse pra Maria que parece ser mais chegada a essa família do casamento, mas Jesus foi convidado também. E no final das contas esse convidado, que não tinha o dever de resolver absolutamente nada, que era apenas um convidado, evitou a vergonha deles, e mais do que isso trouxe um momento de glória na festa, criando para os noivos uma ótima reputação, sendo conhecidos por servirem o melhor vinho de todos. 

E nisso tudo, os noivos que eram os mais ligados a toda história, nem ficaram sabendo o que aconteceu nesses bastidores da sua festa, eles nem ficaram sabendo que o vinho acabou, que o desespero logo os surpreenderia e que toda a alegria da festa acabaria, eles nem ficaram sabendo que um homem convidado para a festa transformou a água dos vasos sujos em vinho de extrema qualidade, que Ele restaurou a alegria de toda essa festa.

 

Isso mostra que ninguém está livre de realizar uma compra ruim na vida, como fizeram esses noivos, uma decisão ruim, tomar um caminho ruim, fazer escolhas ruins. Isso mostra que problemas acontecem, e alguns problemas são tão grandiosos a ponto de acabar com a alegria de uma vida, como o fim do vinho nessa festa de casamento. Mas a diferença está em quem temos como convidados nessa nossa vida. O poder de devolver a alegria a uma vida está no convite que você fará para que esse tal “Jesus” possa estar no meio da sua vida quando a alegria acabar. 

O milagre não veio antes do vinho acabar, ele veio quando precisava vir, quando a jornada já havia começado, e não é porque o vinho acabou que festa acabou. 

Eles tinham o convidado certo na hora certa.

 

E então quem você tem convidado?

 

 

A escolha dessas talhas sujas nos mostra que as escolhas de Deus não são muito previsíveis, que geralmente são as mais improváveis. Se isso te interessa leia outro artigo sobre os improváveis de Deus. Paulo e os Gregos Episódio III: Os improváveis. 

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