PAULO E OS GREGOS EPISÓDIO III: Os improváveis

Na Síria antiga mais precisamente em Antioquia, um médico grego fazia seus atendimentos regulares em um centro de socorro aos feridos. Provavelmente ele já estivesse familiarizado com a dor e o sofrimento das pessoas, provavelmente seus ouvidos já estivessem acostumados aos inevitáveis gritos de dor, afinal de contas esse lugar do espaço e do tempo onde o médico grego vivia contava com poucos métodos para anestesias.

Mas naquele dia um som lhe pareceu diferente, eram gritos mas não de dor, um homem estava a bradar com todas as suas forças, palavras nada convencionais. O médico grego ficou intrigado, quem era o louco que estava a gritar na praça?

Paulo de Tarso! As pessoas conheciam ele como Saulo o perseguidor. A pouco tempo atrás ele estava amedrontando e matando cristãos, e agora ali naquele local tentava persuadir os moradores de Antioquia a crerem que o mesmo Jesus que ele mesmo já alegou ser uma fantasia, era na verdade o Cristo.

Nosso médico se interessou pela situação e atônito ouviu o que Paulo dizia. Esse tal Cristo morrera já há 8 anos, mas segundo Paulo ele havia vencido a morte e ressuscitado. O médico grego sabia que tal feito era impossível, como alguém pode voltar a vida após ter morrido? Nosso grego tinha um grande conhecimento da medicina e sabia que era impossível. Este doutor não se impressionou com o que Paulo dizia, pois afinal era plenamente impossível essa tal ressurreição, o que deslumbrou os olhos do nosso amigo doutor de pensamentos tão lógicos foi na verdade o narrador da história. Saulo o perseguidor dizendo que Cristo era real? Existia algo ali que o intrigou.

O narrador conquistou mais do que a atenção do médico, suas palavras foram de tamanha profundidade que persuadiram nosso amigo grego a acompanhá-lo. Assim iniciou-se a jornada de Paulo e seu médico e amigo Lucas.

O que teria feito um médico que fez o juramento de Hipócrates, abandonar seu dia a dia do centro de atendimentos e seguir um louco que falava de algo impossível? Talvez as palavras. Mas somente as palavras afetariam a mente do nosso amigo grego? Talvez o doutor nem acreditasse no que ouviu, talvez tenha acompanhado Paulo para conferir de perto o que estava acontecendo com aquele homem que acreditava tanto em um Cristo que outrora atestava ser uma invenção.

#PAULO

Paulo nasceu em Tarso na Cilicia, hoje Turquia. Era judeu filho da tribo de Benjamim, como cidadão romano usava o nome Saulo. Em Tarso estudou grego, latim e as leis judaicas, e quando jovem foi para Jerusalém estudar com um rabino famoso e especialista do Torah, Gamaliel.

Esse professor do eloquente Paulo era líder do sinédrio e doutor do Torah, um fariseu que possuía inúmeros discípulos. Gamaliel é o primeiro dos sete líderes nomeados da escola Hillel e autor de alguns decretos legais da comunidade.

Já fizeram as contas de anos? Saulo de Tarso estava estudando com Gamaliel quando Jesus andou nas mesmas terras. Nicodemos, citado nos textos da crucificação, frequentava o mesmo Sinédrio de Gamaliel. Porém após a morte de Jesus o mestre e o discípulo tomaram rumos opostos. Gamaliel batizou-se, ao que se acredita com Pedro e João. E Saulo iniciou sua perseguição aos “nazarenos”.

Em 36 depois de Cristo, Estevão foi martirizado, e Saulo, ainda um jovem guardou as roupas dos que atiravam as pedras no apóstolo de Cristo. Esse carinha, o tal Saulo iniciava sua oposição à nova igreja que era criada pelos seguidores do Cristo ressuscitado, e essa sua perseguição aos que acreditavam na ressurreição virou uma caçada aos apóstolos para levá-los a morte.

O ódio de Saulo à igreja que estava nascendo era tão grande que pediu ao Sumo-sacerdote judeu, que o deixasse buscar algemados os seguidores de Cristo que viviam em Damasco. Mas como diria Carlos Drumond de Andrade, foi nessa estrada que ‘havia uma pedra no caminho’. Na estrada para Damasco Saulo foi parado por algo inusitado, o próprio Cristo aparecera a ele e o deixou cego, após cair do cavalo foi encontrado por Ananias, um discípulo de Jesus que o curou e lhe batizou. Sim Saulo que até então passou anos perseguindo e matando cristãos, em 3 dias ouvindo sobre o Cristo, aceitou batizar-se por um daqueles a quem até então queria matar.

Após sua miraculosa mudança de pensamento Paulo, pois assim passou a ser chamado, corria risco de vida pois era um famoso perseguidor de cristãos, devido a este risco os apóstolos de Cristo o enviaram a Tarso, onde ficou por quase 1 década.  Foi Barnabé que o buscou e o levou  para Antioquia, onde passaram um ano falando dentro das sinagogas. E é aí que entra o  momento onde Lucas o conhece.

#LUCAS E PAULO

Lucas o médico, conheceu a fama do perseguidor Saulo de Tarso, e ao ouvir as palavras deste homem tão eloquente percebeu que se tratava do famoso matador de cristãos.

Mas Lucas como bom grego já tinha um panteão de deuses, nenhum dos seus deuses aparecera a ele antes, então porque acreditaria no Deus que esse homem falava? O que chamou a atenção de nosso doutor grego possivelmente não foram os fatos falados sobre a ressurreição e sim os fatos relacionados ao implacável perseguidor. Foram os fenômenos psicológicos e sociais de Paulo que o instigaram.

O mentor de Lucas foi Paulo o cristão, mas em seu histórico haviam perseguições implacáveis que levavam cristãos a prisão para os pressionar a irem contra sua crença, o homem que levou muitos destes perseguidos a morte sem um julgamento e sem nada que justificasse suas sentenças.

Esse homem havia sido um sociopata, um homem de transtornos sociais, violento, autoritário, controlador, não obedecia as regras. Sua violência não era justificada pelo seu berço judaico que era contra os cristãos, ele não defendia sua própria religião, Saulo possuía transtornos de personalidade. E como médico Lucas reconheceria parte destes transtornos, mesmo naquela época.  Porém o homem que estava a sua frente falando deste tal Cristo, não parecia ser o mesmo sociopata que perseguia cristãos. Eis aí o que pode ter chamado a atenção de nosso amigo doutor.

Lucas deve ter ficado intrigado, ouviu a história de Paulo, o acompanhou, relatou seus feitos no livro de “Atos”. O novo Paulo não se parecia com o sociopata Saulo, e Lucas reconhecera essa transformação.

Ao que podemos constatar em algumas histórias do apóstolo Paulo, ele continuou com um caráter forte, mas deixou de usá-lo com a destruição e passou a explorar a força do seu caráter com a construção da nova igreja de Cristo. Psicologicamente falando ele implodiu seu egocentrismo, e foi isso que conquistou a atenção de seu mais novo amigo o doutor Lucas.

#OLHA SÓ

Esse nosso amigo médico é o mesmo que escreveu 15 anos depois o “Evangelho segundo Lucas”, que é a biografia mais lógica e detalhista da vida de Cristo. Apesar de ter vivido na mesma época em que Jesus estava andando por aí com seus discípulos, Lucas não viu Cristo. Então como escreveu essa biografia de alguém que não conheceu? Pesquisando! Entrevistou diversas pessoas que tiveram um contato direto com o tal Jesus, falou com muitas pessoas sobre as mesmas coisas para obviamente ponderar suas respostas e compará-las. Provavelmente em algum momento ele passou a crer na tal ressurreição, mas mesmo crendo quis escrever relatos de fatos verídicos e continuou suas pesquisas.

Lucas foi o único não judeu a escrever um evangelho, e seus relatos podem ser os mais próximos aos reais. Ele tentou ser objetivo, focando em fatos cronologicos como um jornalista informativo, um autor histórico e não como um autor poético. Em seus textos é possível encontrar a importância que deu aos feitos de Jesus na cura das pessoas.

Alem do destaque aos fatos médicos, Lucas também apresenta a relevância das mulheres na história, em vários trechos de seus textos relata acontecimentos com a participação de personagens femininos.

O nosso autor não escreveu para cristãos ou judeus, pois descreveu com alguns detalhes locais já conhecidos por judeus, porque descreveria um local que já se conhece? Apesar de entrevistar judeus, usou termos não judeus como “calvário” ao invés de “gólgota”. Lucas falou com propriedade sobre o amor desse tal Cristo por proscritos (excluídos) da sociedade judaica, como os samaritanos e gentios, e enfatizou como esse Jesus aproximava-se destas pessoas.

#ESCOLHAS IMPROVÁVEIS

Um evangelho da bíblia foi escrito por um gentil, por um homem que preferiu fatos lógicos à crenças fidedignas. Um autor improvável! Tão improvável quanto seu tutor Paulo que possuía uma história de perseguição e morte.

Paulo e Lucas nos mostram que existem fatos impossíveis que somente os seres humanos mais improváveis conseguem tornar possíveis.

Hoje este texto é dedicado à você que se vê como um improvável, como alguém que não seria escolhido ou chamado para algo, como diferente, como fora do padrão. Hoje este texto é dedicado a você que está aí pensando em desistir por não se encaixar nesse padrão que é tão diferente de você.

Assim como somente Paulo e Lucas, você, o mais improvável ser humano é aquele que mostrará os impossíveis se tornando possíveis!

ACREDITE.

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