As improváveis

 

A algum tempo atrás falamos sobre Lucas e o quanto ele era um improvável (Leia sobre Lucas clicando aqui). Bem, Lucas registrou em seu livro a genealogia de Jesus, que também aparece em Mateus. E indicou que Jesus era descendente do rei Davi que reinou sobre Israel 28 gerações antes dele. Davi foi o rei mais importante na história dos judeus, portanto um descendente de Davi teria sim direito legítimo a ser declarado Rei de Israel. Mas hoje não falaremos sobre Jesus ou qualquer outro rei. Hoje falaremos sobre 4 pessoas improváveis, que aparecem nessa genealogia antes de Davi. São pessoas que não deveriam estar ali, não deveriam fazer parte da história dessas gerações, mas estavam lá, no lugar que qualquer um daquela época diria (e alguns até disseram) que não pertencia a eles. Improváveis, 4 pessoas improváveis que estavam no lugar que supostamente não deveriam estar, mas ainda bem que estiveram, pois se assim não fosse a história jamais seria como foi! Improváveis que com sua vida simples e cheia de problemas fizeram uma grande revolução quando observamos a história completa.

#O COMEÇO

Essa história começa mesmo é bem antes desse começo, mas seria muito longo falar de tudo, então vamos iniciar a partir de Lia, uma mulher que viveu a cerca de 3800 anos.

Lia tinha uma irmã chamada Raquel, e viviam nas terras de seu pai. Um dia Jacó apareceu na casa do seu tio Labão e acabou conhecendo e se apaixonando por Raquel. Jacó era o filho de Isaque, e portanto neto de Abraão, aquele que era o tal pai da fé. (veja o artigo sobre Abrão clicando aqui)

Bem Labão disse que Jacó poderia casar com Raquel se trabalhasse para ele por 7 anos, e o enamorado garoto obviamente aceitou. Findados os 7 anos, Labão deu ao sobrinho o prêmio tão sonhado, mas Jacó que pensou estar casando com Raquel, casou-se na verdade com Lia. Pois como justificou-se Labão depois do casório, essa era a tradição, primeiro era a filha mais velha, depois a mais jovem. E pactuou com seu sobrinho mais 7 anos de trabalhos em troca da jovem Raquel. E sim Jacó trabalhou por mais 7 anos. 

Foram 14 anos bem longos, mas quando Jacó voltou para sua terra, levando Lia, Raquel, mais duas servas e vários filhos, incluindo Judá que era um dos mais velhos filhos de Lia com Jacó. Vale lembrar que o termo judeu, vem do nome Judá.

Voltando às terras onde morou na infância, Jacó criou seus 13 filhos e estes casaram-se, alguns com pessoas da mesma terra e outros com mulheres estrangeiras, e tiveram seus próprios filhos.

Nessa época Tamar era uma jovem cananeia, e foi escolhida para casar com um tal de Er, sim esse era o nome dele, e ele era filho de Judá. Mas Er não parecia ser um bom homem segundo a história, e ela ficou viúva ainda bem jovem. Bem, ser viúva, jovem e sem filhos naquela época era um grande problema para uma mulher, e Judá seu sogro então disse ao segundo filho Onã para casar com a jovem Tamar e lhe dar filhos, assim ela não ficaria desonrada e a memória de Er seria mantida, pois mesmo se biologicamente o filho fosse de Onã, seria para a sociedade como um filho de Er, essa era a tradição. 

Onã obedeceu ao pai e casou, mas não gostou muito da idéia da descendência ser atribuída ao seu irmão, então toda vez que se deitava com a esposa dava aquele jeitinho de garantir que ela não engravidasse. 

Er também morreu, e além de ela ficar novamente viúva sem filhos, tornou-se amaldiçoada aos olhos do sogro, que acreditava que se desse seu último filho para casar com ela pela honra da família ele também morreria.

Tamar não podia mais voltar pra sua família e não tendo mais a sua própria família, ficou a margem de toda a sua sociedade. Mas ela tinha o direito de reivindicar a solução ao sogro, que em hipótese alguma daria seu último filho (que digasse de passagem era jovem demais pra isso mesmo) pois tinha o medo de assim ele mesmo ficar sem descendência. 

A questão é que a jovem não era o centro do problema, e sim os 2 maridos que possuiu. Mas lembre-se, a quase 4.000 anos, vivendo numa sociedade patriarcal as mulheres não possuíam muitos direitos e liberdades. Ela bolou um plano para mostrar sua inocência e provar que poderia engravidar, engravidando do próprio Judá, afinal ele seria o único que poderia resolver a questão. 

Bem o final da história de Tamar é que ela teve filhos gêmeos Perez e Zerá, filhos de Judá. E lembre-se que Judá era um dos irmãos de José, aquele da história do Egito. Então após essa fase da vida Judá, Tamar e seus filhos migraram pro Egito junto com toda a galera dos filhos de Jacó para morar pertinho do irmão José.

Perez teve filhos, netos e bisnetos, sua bisneta foi Eliseba a esposa de Aarão e cunhada do Moisés. Mas não é de Eliseba que queremos falar, e sim do seu irmão Naasom.

Naasom também saiu do Egito junto com a galera de Moisés, e andou pelo desertão até morrer. Mas antes disso ele também teve seu filho que chamou Salmom. 

Salmom viveu uma parte da vida no deserto, e lutou ao lado de Josué, aquele que derrubou as muralhas de Jericó. Mas ele ainda estava solteiraço quando Josué e sua trupe conquistaram a cidade de Jericó (que emanava leite e mel). 

 

#SÉCULOS DEPOIS

Bem, não vamos falar muito de Josué hoje, mas ele foi responsável por estabelecer o povo  no lugar onde por muito tempo foi Israel. A maior batalha dele foi Jericó, quando Josué e seu exército cercaram Jericó, uma mulher que morava lá dentro da cidade murada ajudou os israelitas. Quase todas as traduções do livro de Josué onde ela é citada a descrevem como uma meretriz, apesar de existirem aqueles que diriam que ela apenas tinha uma pousada ou era comerciante. Meretrizes não tinham muita moral perante o povo israelita, mesmo que alguns homens desfrutassem dos seus serviços, elas eram isoladas da sociedade. Portanto sendo ela meretriz não seria aceita pelo povo que vinha com Josué. Mas, com essa prostituta foi diferente. Ela ajudou os soldados no cerco à Jericó, e recebeu méritos por isso. Na verdade Raabe e sua famíla foram os únicos moradores de Jericó que ficaram vivos, todos os demais foram literalmente exterminados pelos israelitas. 

E porque estamos falando dela? Porque Salmon desposou-a, saindo da solteirice.

De Raabe e Salmon nasceu Boaz. E quem é Boaz?

Esse cara de nome engraçado era o senhor de um grande campo e aparece na história de Rute.

Rute é outra triste viúva jovem e sem filhos. Ela não era israelita também, morava em Moabe, e havia se casado com um belo rapaz israelita que havia migrado para lá devido a um período de fome onde morava.  Malom, filho de Noemi e Elimeleque casou com Rute, mas morreu antes de dar-lhe um filho, seu irmão Quiliom também morreu, e sobrou apenas Noemi e suas duas noras, as três viúvas e sem recursos. Como Noemi era israelita decidiu voltar para seu “país” e Rute, somente Rute, foi com ela. 

Elimeleque, o sogro falecido de Rute tinha parentes que ficaram nas terras de Israel, mais precisamente em Belém,e foi para lá que as duas viúvas foram. Mas lembre-se que viúvas sem filhos ficavam à margem da sociedade, e assim foi com elas. Noemi e Rute comiam os grãos que ficavam para trás no final da colheita do grande campo de Boaz. 

Naquele tempo já existiam leis bem específicas para o povo, e uma delas era que o parente homem mais próximo deveria honrar a descendência em caso de falecimento. Puxa, lembra do que Judá fez com Tamar? Virou lei!

Mas Noemi não chegou reivindicando a lei para Rute, talvez pelo medo do que ocorreria afinal Rute era uma estrangeira, e estrangeiros nem sempre eram bem vistos. 

Sabe quem era o parente mais próximo? Boaz. Não se sabe exatamente o grau de parentesco, mas o marido de Noemi era da tribo de Judá e parente próximo de Boaz.

O filho da Raabe, segundo a  história do livro de Rute parece indicar, apaixonou-se pela viúva Rute e após casar-se com ela teve um filho que chamou Obed. 

Esse garoto Obed também teve seus filhos e netos. E foram pessoas famosas. O filho de Obed é Jessé, e Jessé é nada menos do que o pai de Davi que foi rei em Israel.

#MILÊNIOS DEPOIS

E esse montão de histórias de pessoas e seus filhos foi contado pra você hoje, somente para sabermos da vida de 4 mulheres: Lia, Tamar, Raabe e Rute. 

Estas 4 pessoas não deveriam estar na história, era improvável pensar que cada uma delas apareceria na história que Lucas e Mateus narraram contando sobre os ancestrais de Jesus, porque tudo indicava que seriam esquecidas, mortas nos ataques ou abandonadas pela sociedade. Mas elas aparecem, vejam só, na árvore genealógica de pessoas importantes, pessoas que não existiriam se essas 4 mulheres improváveis não estivessem onde estavam, se não fizessem o que fizeram. 

O texto é longo, mas não é capaz de retratar a vida dessas pessoas, de mostrar o que sofreram e o quanto lutaram, sem saber que milhares de anos depois da vida delas, elas seriam vistas como ancestrais improváveis na história de um Deus que se fez homem. 

 

Talvez seja isso: Não somos importantes nesse mundo. Talvez como essas mulheres o sentimento que temos é de estarmos a margem da sociedade. E é bem provável que seja isso mesmo, somos a pessoa mais improvável para fazer algo importante hoje. Mais improvável de realizar algum feito histórico, de registrar algo importante nesse mundo, de fazer alguma coisa que fique na história. É bem possível que seja isso mesmo, que você seja o mais improvável de todos. Mas esse é o segundo artigo que escrevo contando a história de pessoas improváveis que revolucionaram a história. Era totalmente improvável que elas seriam importantes mas foram! Improváveis naquele momento da vida delas, mas reais!

 

Seja o improvável mais real que você pode ser hoje!

 

 

 

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