VINHO NOVO EM ODRE VELHO, MAS O QUE É ODRE?

Jesus diz que “Não se põe vinho novo em odre velho”. Essa comparação está registrada na bíblia em Mateus 9:14-17 

Você já se perguntou o que exatamente é o odre que Jesus cita?

Por muito tempo associei odre à uma vasilha de barro, e sempre imaginei que esse trecho falasse sobre sabor do vinho. O odre usado por eles naquela época era uma vasilha de transporte, você consegue imaginar um beduíno ou um judeu carregando um vaso de barro cheio de vinho nas suas costas?

Se você, assim como eu, já pensou que odres fossem vasilhas de barro, saiba que essas vasilhas são chamadas de “Talhas”, também poderiam abrigar vinho, mas isso não era o comum. Quando Jesus faz o milagre de transformar água em vinho, ele utiliza as talhas, que na ocasião deveriam estar sendo usadas com água de purificação ou seja, água não potável. Escrevemos um artigo sobre isso, leia o artigo do vinho nas talhas clicando aqui.

#OQUE SÃO ODRES?

O odre que Jesus fala sobre o vinho novo, em Mateus  9:17 não é uma vasilha de barro, e sim um recipiente feito de pele, geralmente de porco para os não judeus, e de cabra para os judeus. E a parábola não tem haver com o sabor do vinho, e sim com o processo de sua fermentação dentro do recipiente.

Para aproveitar o tamanho, era utilizada a pele completa do animal (geralmente eliminando apenas a cabeça), poderiam existir tamanhos e formatos diferentes de acordo com a utilidade. Um odre para água em pequenas caminhadas deveria ser provavelmente uma pequena bolsa, porém um odre para guardar vinho ou água em grande quantidade provavelmente era confeccionado a partir de um animal inteiro. Como nas imagens abaixo:

 

 

Como falei antes, eu achava que ele estava falando do sabor que vem do odre novo, como seriam nos barris de carvalho, mas acontece que o sabor naquele tempo estava mais associado a qualidade das uvas utilizadas, e também as leveduras utilizadas para fermentação. O sabor poderia até ser alterado durante a fermentação dentro do odre, mas isso não tinha a ver com o odre e sim com as leveduras.

Quanto ao odre, por ser feito da pele/couro, ele preservaria o liquido em boa temperatura e era um utensilio flexível, elástico, aumentando seu tamanho de acordo com a quantidade de liquido dentro dele.

Mas como todo o utensilio feito de couro e pele, um dia ele fica velho e perde a elasticidade. É como aquela borracha velha ou aquele calçado muito velho que você tem em casa. Simplesmente não estica mais, não tem elasticidade, está seco. A imagem abaixo é um artefato arqueológico em exibição no MAB – Museu de Arqueologia Bíblica da UNASP em São Paulo, e é justamente um odre velho, com a pele seca e rigida.

Os beduínos e os judeus não jogavam odres velhos fora, porque apesar de não servir mais para guardar vinho, o couro poderia ser utilizado para outras coisas, como concertar sandalias ou telhados. Mas com certeza, eles não colocavam vinho novo dentro deles.

 

Quando ele fala sobre pôr vinho novo em odre novo, está falando justamente isso. O odre precisa ter a capacidade da elasticidade para abrigar o vinho novo, porque o vinho novo está fermentando e borbulha, esse processo é como agitar uma coquinha dentro da garrafa, as bolhas ocupam espaço. Durante a fermentação do vinho, as leveduras metabolizam os açúcares existentes no mosto de uva, liberando etanol e dióxido de carbono.

Um odre novo conseguiria suportar o processo da fermentação expandindo junto com o dióxido de carbono liberado pelas leveduras do vinho dentro dele. Mas um odre velho não conseguiria.

Ao ficar velho e perder sua elasticidade, o odre não conseguiria esticar o suficiente quando as leveduras estivessem fazendo seu trabalho dentro dele, e arrebentaria suas costuras com a pressão interna, como uma panela de pressão que estoura pelo pininho que tem na tampa, ou como uma coquinha que vaza pela tampa.

Um odre velho serve pra por vinho velho, já fermentado, porque este não está mais liberando dióxido de carbono com as leveduras, portanto não precisa de uma vasilha que permita expansão.

Portanto não se coloca vinho novo em um odre velho.

#RESPOSTA

No texto de Mateus, Jesus fala isso para um grupo de alunos de João Batista que reclama com ele sobre o fato dos seus próprios discípulos não estarem jejuando. Ele fala essa metáfora para esse grupo como resposta. Mas por quê?

Mateus fala que eles disseram: Então, chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? (Mateus 9:14)

Note que  dizem que eles e os fariseus jejuam. O grupo estava falando sobre os jejuns dos judeus, o jejum pelo menos duas vezes por semana era uma expressão de destaque no judaísmo, e os fariseus, por terem um compêndio de leis extras, jejuavam ainda mais vezes. Seguindo do principio de que os discípulos de Jesus, assim como o próprio Jesus, eram judeus, e Jesus era como um rabino, todos deveriam realizar estes jejuns, como um bom judeu faria.

Mas a resposta que Jesus deu à eles foi que não era o momento dos seus discípulos jejuarem pois o noivo estava ali ou seja, era o momento de eles partilharem da presença de Jesus.

O jejum possuía alguns significados, mas dentre eles o que mais se ressaltava era a prática de jejum como acesso do perdão divino para todos os pecados, isso para todos aqueles que jejuassem durante 12 dias do ano no total, no mínimo de três dias e três noites. Mas os discípulos de Jesus não jejuaram nenhum dia depois de começarem à segui-lo, até aquele momento da pergunta.

A resposta de Jesus foi a mais obvia possível: eles não estavam jejuando naquele momento da vida porque afinal de contas, eles estavam andando com o próprio perdão em pessoa (Jesus). Mas Ele disse que ainda não era o tempo para que eles jejuassem, mas que haveria o momento em que no futuro eles jejuariam: “Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão.” Mateus 9:15, JESUS NÃO FALOU QUE NÃO SE DEVE JEJUAR E QUE OS DISCIPULOS NUNCA JEJUARIAM. ELE INCLUSIVE DISSE QUE FARIAM ISSO NO FUTURO.

Ao contrário do que algumas pessoas falam, Jesus não condenou o ato do jejum, Ele próprio jejuou, e o livro de Atos mostra que os discípulos, então apóstolos, e os outros seguidores, jejuavam com frequência.

Mas na verdade mesmo, o que Jesus queria dizer está bem implícito na parábola do vinho no odre, que ele usou como resposta logo em seguinda. Mateus 9:16-17

¹⁶ Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura.

¹⁷ Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.

O grupo que fez a pergunta falava das leis sobre jejum, prova disso foi a citação aos fariseus, que segundo seus costumes tinham inúmeras leis. A resposta de Jesus foi clara para aquele grupo, dizendo que Ele, Jesus, como noivo, trazia um novo tempo, um tempo onde haveria acesso ao perdão, onde as leis antigas, no caso as leis mosaicas e as leis complementares dos fariseus que serviam para que o perdão de Deus chegasse até eles, já não caberiam mais, por que Ele, Jesus, trazia um novo perdão ao mundo, um novo acesso ao perdão divino. O vinho novo! E esse novo acesso, esse novo perdão, não caberia mais em costumes e rituais antigos, por que as leis antigas não se adequavam mais à ele, como é um odre velho sem elasticidade.

Apesar de parecer mais fácil para nós entendermos quando falamos diretamente – Jesus trouxe um novo perdão divino, e você não precisa mais dos rituais antigos –, falar isso diretamente dessa forma naquele momento era muito complexo para aquela socidade que por milênios só conhecia um acesso através de leis, que eram quase impossíveis de serem seguidas. Por isso era mais fácil a compreensão através das parábolas relacionadas ao dia a dia daquela sociedade. A metáfora usada por Jesus era de simples resolução para as pessoas que viviam naquela época, pois todos sabiam como armazenar vinho.

#MAIS RESPOSTAS

E talvez seja ainda mais profundo. O vinho era usado na Ceia de Páscoa pelos judeus, eles comemoravam a Páscoa trazendo a memória os atos de Moisés no Exodo, a libertação do povo do Egito. E seguiam passos exatos. A sequencia de uma ceia de páscoa era:

  1. Beber um cálice de vinho
  2. Lavar as mãos, simbolizando a lavagem espiritual para a limpeza moral.
  3. Comer ervas amargas, símbolo da escravidão do Egito
  4. Beber o segundo cálice de vinho, momento em que o chefe da casa explicaria o significado da pascoa
  5. Cantar o hallel (salmo 113 até 118)
  6. O cordeiro era trazido e o chefe da casa distribuía pedaços junto com pão sem fermento
  7. Beber o terceiro cálice de vinho

O vinho era usado no cálice como representação do sangue. O ato do cálice  era a representação do sangue do sacrifício, que sempre foi exigido para estabelecer alianças, judeus eram proibidos de beber sangue, então o vinho era a representação do sangue do sacrifício para a aliança entre o povo e Deus, neste ato da páscoa, e toda a família judaíca sabia disso, pois no passo 4 o lider da casa deveria explicar para todos os presentes o significado de cada passo e de cada ingrediente.

Quando Jesus fala que Ele é o vinho novo, vai além de questões de sabor e etc (até mesmo porque sabemos que os melhores vinhos são os de safras mais antigas). Ele já sabia sobre o que acotenceria, sobre o como sua morte expiaria o pecado do mundo, portanto, Jesus está nesta parábola sobre odres, afirmando que Ele é o Vinho Novo, Ele é o sangue do sacrificio, Ele é o sacrifico que leva perdão ao povo. Portanto a tradição antiga já não é mais necessária. Não é uma critica ao jejum, é uma critica ao povo que estava preso nos rituais antigos esperando que através de seus sacrificios particulares fossem perdoados por Deus.

O texto não indica se o grupo entendeu ou não o significado. Mas fato é que ainda hoje, compreender essa metáfora abre um pouco nossa percepção sobre a vida.

Ninguém guarda vinho novo em odre velho.

Existe um caminho novo, uma vida nova, um futuro novo, mas para acessá-lo é preciso desprender-se do antigo EU, para viver o novo é necessário abandonar o velho, é necessário abrir um pouco a mente e deixar os velhos costumes, principalmente aqueles que fazem de nós céticos, e isso vale também para aqueles que já acreditam em Jesus, mas, que assim como aquele grupo e os fariseus, ainda estão presos em processos antigos de sacríficos em troca de bênçãos.

O próprio Perdão te chama pelo seu nome, seja bem vindo ao Vinho Novo.

 

 

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