Vamos iniciar esse escrito com uma com uma citação um tanto estranha para um artigo voltado a religião, mas como religião e fé são diferentes, pode ser estranho pra religião, mas mas é mais do que pertinente para fé, ela é inspiradora…
No episódio 5 da 3ª temporada clássica de Star Treck, eles levam a bordo da Enterprise o embaixador de uma raça alienígena chamada Meduzianos e uma psicóloga sua acompanhante, que devido a sua aparência tão feia deve ficar sempre dentro de uma caixa de metal porque qualquer pessoa (alienígena ou não) pode morrer ou ficar totalmente insana somente por olhá-lo. Da tripulação apenas Spock com a ajuda de óculos filtros podem observá-lo, isso porque o Vulcano consegue suprimir todas as emoções e assim não seria tomado pela insanidade, porém sem os filtros não existe criatura que possa olhar para aquele ser.
Um diálogo que surge entre a tripulação e uma mulher que estranhamente pode viver entre os Meduzianos chama muito a atenção. Alguém diz: Como pode viver entre um povo tão feio que sua aparência pode matar? Ela prontamente responde: Feio. Ou belo de mais que possa ser incompreendido?
O que isso tem haver com o tema? Muito.
# QUEM VIU O ABSTRATO
Possivelmente você já ouvir falar sobre a face de Deus, e toda aquela construção de enaltecimento incompreensível da beleza da face de Deus, Moisés por exemplo não pode ver o rosto de Deus pois isso o mataria. Já chegou a refletir de forma lógica ou até mesmo plausível, que tipo de beleza é essa que mata e fascina?
Seria possível conceber um rosto para Deus? Uma pesquisa americana tentou fazer isso e descobriu que muitos que acreditam em Deus, o imaginam de uma forma que reflete suas características culturais e sociais. Isso pode significar que Deus tenha uma aparência abstrata, que nos permite vê-lo conforme acreditamos? Talvez todo o mundo espiritual seja desta forma.
Vejamos assim… de acordo com oque esta escrito em algumas partes da bíblia um dos atributos dados a visibilidade de Deus
I Timóteo 1:17 “Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre”.
E em I Timóteo 6:16 “Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempre eterno. Amém”.
Nestes versículos atribuísse a característica de que Deus é invisível, porém muitos profetas no antigo testamento e no novo testamento, tiveram a experiência de ver Deus ou os anjos, que pertencem a essa dimensão invisível. Isso nos faz pensar que aquilo que é visível pode se tornar facilmente visível, porém se observarmos bem Moisés, Isaías, Ezequiel, João entre outros viram os anjos e até mesmo Deus de formas diferentes. Uma Sarça ardente, um trono altíssimo cercado de serafins e tantos outros formatos, mostram que Deus realmente possui uma camada abstrata que permite uma forma variada de manifestações todas possivelmente instanciadas pelo próprio observador,o que não significa que foi imaginação, foi real! complexo isso?
Mas imagine que Ezequiel ao relatar suas visões o fez descrevendo seres que tinham aparência condizente com a arte e cultura do local e época em que vivia no cativeiro da babilônia, seres de rostos e 4 asas e etc…, ele usou um filtro compreensível a mente dele. Isso talvez seja como os óculos de filtros usados por Spock na série de ficção científica, para poder ver de forma controlada mas não plenamente a forma do ser, que o enlouqueceria.
Talvez todo o mundo espiritual seja assim abstrato em sua aparência. Mas isso é uma especulação que poderemos refletir em outra oportunidade.
Quero enfatizar na Face de Deus.
#A FACE
Porque toda essa atenção com a face? Qual a diferença em olhar para a face de Deus e para qualquer outra parte Dele?
A face refere se a identidade, quando olhamos para uma pessoa, sua identidade está focada em seu rosto, damos muito mais atenção para os traços de sua face do que qualquer outra característica física. Mesmo se a digitais ou o som de sua voz possibilitam identificar uma pessoa, é sempre na face que procuramos identificá-la, e é a primeira imagem que nos vem à mente ao se referir a ela. Então como seria a identidade de Deus? Quais os atributos que podemos usar como base para pensar nessa identidade? Vamos falar de dois:
Onipresença:
Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar. Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa;
Salmos 139:7-12
Atemporal:
Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.
2 Pedro 3:8
Com esses dois atributos podemos fazer um exercício mental, que mostrará como deve ser olhar para uma identidade que fascina, hipnotiza, com beleza incompreensível ao ponto de matar.
E este exercício vem de outra série de ficção ainda menos evidentemente associável com um artigo como este, Dr Who. Não entrando em detalhes sobre a série mas basicamente, é preciso falar que aborda questões temporais e seus paradoxos, o personagem pode ir a qualquer lugar em qualquer tempo. Não é maravilhoso poder ir onde e quando quiser?
Tirando a ficção a certas coisas que se devem considerar ao falar em viagens no espaço tempo como por exemplo a gravidade, lei da termodinâmica e os paradoxos lógicos implicados nisso. Você já imaginou algo como parar o tempo?
Pense que se isso fosse possível você não veria nada já que a própria luz está em movimento. Mas se você imaginar o tempo mais lento você verá algumas coisa mas não tudo, você verá principalmente as cores, algumas sim outras não, pois algumas são mais lentas outras mais rápidas.
Agora imagine o lugar onde você se encontra, uma sala, um quarto um local público, não importa. Olhe em volta e veja o que acontece, lembre se o tempo está extremamente mais lento. Se for uma local familiar para você melhor, agora imagine todas as coisas que já aconteceram neste local desde sempre. Imagine até aquilo que este lugar já foi a anos atrás. Após isso imagine as possíveis coisas que aconteceram no futuro neste mesmo lugar. Depois disso tente imaginar todas essas coisas acontecendo ao mesmo tempo no mesmo lugar! Você consegue fazer isso? imagine também todas a possibilidades do que poderia ter acontecido e que possivelmente podem acontecer. Difícil né… comprimir o tempo e o espaço e todas as possibilidades em de um único lugar, todas de uma vez. Imagine isso em escala universal e até mesmo multiuniversal. Olhar para a face de Deus é olhar para isso. Tudo o que aconteceu, acontecerá e todas as possibilidades que não seriam ou serão, tudo ao mesmo tempo.
Essa identidade de Deus é fascinante, é bela, mas incompreensível a um ser como somos, e por que não assustadora!
Mas então se Deus tem isso em sua identidade porque outros aspectos de Deus não possuem o mesmo efeito?
Voltamos ao filtro espiritual (ou óculos com filtro do Spock) e veremos que a metáfora das palavras na bíblia são muito mais que metáforas, são abstrações desses aspectos. Se eu pedir para que você desenhe algo que expresse alguma emoção a provavelmente você irá se deparar com um paradigma, talvez fazer um desenho figurativo. Por exemplo se a emoção for amor o desenho poderá ser um coração, ou um casal apaixonado. Isso é uma das formas na qual nossas crenças limitantes se manifestam, e isso não é errado quando não prejudica sua vida ou a vida de outro, crenças limitantes podem ser prejudiciais quando elas se tornam nocivas em qualquer aspecto. Mas neste caso pode não ser, e acaba por ser uma forma na qual o mundo espiritual se manifesta para nós humanos. É a sua forma de instanciar, atribuir forma, a algo que é abstrato em nosso universo material. Quero fazer uma exemplificação dentro da bíblia:
E disse mais: Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá. Disse mais o Senhor: Eis aqui um lugar junto a mim; aqui te porás sobre a penha. E acontecerá que, quando a minha glória passar, pôr-te-ei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até que eu haja passado. E, havendo eu tirado a minha mão, me verás pelas costas; mas a minha face não se verá.
Êxodo 33:20-23
Veja que Deus disse a Moisés. Porque olhar para sua mão e para suas costas não o mataria? Porque a mão de Deus representa uma outra coisa, um aspecto de Deus que está ligado a este membro, é com as mãos que realizamos o trabalho, o que Moisés viu foi a ação de Deus, as mãos de Deus sempre estão relacionadas ao que Ele faz, proteção, criação, destruição e etc.. Logo ao ver uma ação de Deus Moisés pode ter visto o que entendeu como Sua mão. E quanto à olhar para as costas Dele, pode ser representado como uma reflexo do passado ou simplesmente porque qualquer pessoa vista pelas costas se parece com todas as outras, um aspecto de Deus de que Ele pode ser tudo. É muito mais fácil para nós entendermos a onipotência Dele do que os outros atributos.
Esse filtro está relacionado a nossa fé, a forma que cremos, que pode estar ligado muito a religiosidade ou não.
Certa vez conheci uma pessoa cega de nascença e perguntei a essa pessoa se via tudo escuro ou tudo branco, eu já imaginava a resposta que me daria mas eu precisava ter certeza. Ela disse exatamente o que imaginei: “Eu não sei!” Isso porque ela nunca viu o escuro ou o claro, para ela isso não exista. E se perguntar que cor é a grama ela irá dizer verde, mas só sabe disso por que alguém disse a ela que a grama é verde, ver mesmo nunca viu. Ter fé não exatamente assim?
Usar a fé pode não parecer lógico, a lógica é uma ferramenta maravilhosa para desvendarmos o mundo, mas se usarmos somente a lógica para explicar as coisas podemos criar limitações. Voltamos para o exemplo de um cego, e desta vez com uma outra ideia …a nossa limitação na expressão linguística. Na língua inglesa podemos substituir o verbo entender, to Understend, pelo verbo ver, to see, para dizer que entende algo, dependendo de como usar na frase os dois verbos tão diferentes significam a mesma coisa. Para um cego de língua inglesa isso pode parecer até sem sentido afinal como pode usar uma palavra que descreve algo que ele não possui para expressar outro coisa. A fé talvez seja isso… uma escolha de ferramenta que nos leva a sentir aquilo que nos falta sentido para perceber.