OS PERDIDOS: A OVELHA, A DRACMA E OS FILHOS – Filho pródigo, parte 2

Em outro artigo detalhamos a parábola do Filho Pródigo, mas essa parábola é um texto composto por outras duas parábolas “Ovelha perdida” e “Drama perdida”, que obviamente falam sobre coisas perdidas, assim como a do Filho Pródigo. Mas porquê? 

Juntas elas têm um significado importante, e foram contadas na porta de uma comemoração.

Jesus estava fazendo uma refeição com publicanos (cobradores de impostos) Lucas 15:01-02. Este momento é o mesmo registrado por Mateus e Marcos, que não trataram das parábolas da mesma forma que Lucas, porém também registraram o que ocorreu, dando ênfase para ser uma refeição na casa de Mateus, que ainda era publicano e acabara de ser chamado por Jesus para segui-lo. (Mateus 9:09-13 ; Marcos  2:13-17)

Na cultura daquela região, os convites de refeições eram importantes. Até hoje é assim em alguns lugares, ao visitar alguém só sai de lá após uma refeição, um café, um lanche. Na Turquia costuma-se servir um chá quente aos visitantes, porque por estar quente o visitante vai esperar esfriar um pouco para toma-lo, e assim haverá tempo para a conversa. Refeições nos tempos bíblicos eram importantes. Poderia ser uma festa, poderia ser um jantar, poderia ser qualquer tipo de refeição, mas pelas parábolas dá-se a entender que se tratava de uma comemoração. 

Era comum que se sentassem para as refeições no telhado ou no pátio da casa, devido ao calor, pois as casas eram compostas de pouquíssimos cômodos e quase sem ventilação. Mesmo na casa de um cobrador de impostos, que teria um pouco mais de conforto, esta refeição possivelmente foi servida em um desses locais da propriedade, portanto era possível que alguém do lado de fora conseguisse visualizar o que estava acontecendo. A de se lembrar, também, que Mateus o levou para uma refeição em sua casa, logo depois de abandonar o local de cobrança de impostos onde estava trabalhando, o que foi visível a todos e deve ter chamado atenção, e talvez houvesse muitos curiosos ali, tentando ver algo.

Os fariseus, que provavelmente estavam espreitando o movimento na casa de Mateus, achando tudo um absurdo, reclamaram. Para eles, assim como para qualquer judeu daquela época, era mesmo um absurdo, um rabino, um homem que diziam ser santo, comendo com publicanos! E aí eu pergunto: Eles, sendo as tradições, dogmas, doutrinas judaicas, não estariam certos? 

E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?” 

(Mateus 09:11; Marcos 2:16)

Lucas trata o texto de outra forma, ele começa dizendo que os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus pra ouvir, e não indica que era exatamente uma refeição na casa de Mateus. Uma parte da comunidade teológica trata como casos diferentes e isolados, a grande maioria concorda em afirmar que o relato de Lucas é do mesmo fato registrado em Mateus e Marcos, sobre uma refeição na casa de um publicano. O importante mesmo é que a pergunta feita pelos fariseus é a mesma nos três evangelhos “O que o Mestre faz comendo com publicanos e pecadores?”

#PUBLICANOS

Os publicanos eram considerados grandes traidores do seu povo. Eram judeus de nascença, mas por opção trabalhavam para o Império Romano cobrando impostos, que muitas vezes eram opressores, do seu próprio povo.  Eram comuns publicanos fraudulentos, que extorquiam o povo mais leigo, cobravam valores fictícios, juros altíssimos, levavam o que lhes convinha, animais, dinheiro, objetos. Um exemplo disso é o texto sobre Zaqueu que disse que devolveria tudo que roubara das pessoas até seu encontro com Jesus (Lucas 19:01-10). Não há muita informação sobre as penalidades romanas para o judeu que não pagasse um imposto, mas um publicano não deixaria passar barato, e supõe-se que os cobradores de impostos possuíam até uma escolta de alguns soldados, ou de capangas contratados por ele próprio, para sua proteção. Por isso o ato de crítica dos fariseus parecia algo comum aos olhos de qualquer outro transeunte ali presente, a crítica feita pelos fariseus seria apoiada e muito bem vista pelos outros judeus, afinal se Jesus estava comendo com homens sem escrúpulos..… O que um homem santo, judeu, estava fazendo ali confraternizando com cobradores de impostos?

Os comentários dos espectadores chegaram até Jesus, e este trouxe uma resposta, provavelmente levantando a voz para que todos do lado de fora da mesa ouvissem, até mesmo pondo-se em um lugar de destaque, porque, lembrem, eles estavam fazendo uma refeição dentro de uma casa, e os espectadores não estariam dentro da casa, mas do lado de fora.

A resposta registrada por Mateus e Marcos foi: 

“… Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. (Mateus 9:12 ; Marcos 2:17)

Mateus ainda complementa : 

“Aprendam o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.” (Mateus 9:13)

Que é uma citação direta de Oséias 6:06, um texto que fala de uma conversão que não é sincera, de pessoas que se perdem dentro da religião. Uma crítica direta aos costumes fariseus, mas também aos infieis, ou diga-se aos que se perderam. Nós não vamos tratar sobre Oséias e sua frase aqui, seria muito extenso, mas é importante, caro leitor, que você descubra um pouco mais sobre esse profeta antigo e o significado da sua frase, citada por Jesus. “Eu quero misericórdia da parte de vocês, e não os seus sacrifícios e rituais”

O evangelho de Lucas não cita essa resposta de Jesus de forma tão direta quando Mateus e Marcos, ele esmiúça uma resposta mais longa, trazendo três parábolas, muito famosas diga-se de passagem:

A ovelha perdida: uma ovelha, do meio de 100, se perde e o pastor deixa as outras 99 abrigadas, para encontrar a que se perdeu, encontra e a traz de volta. (Lucas: 15:03-07)
A dracma perdida: Uma mulher possuía 10 moedas de dracmas, mas perdeu uma dentro de casa, e limpa, arruma e organiza a casa inteira até encontrar essa moeda. (Lucas 15:08-10)
O filho pródigo: A mais longa e mais famosa, o filho mais jovem pede ao pai que dê sua parte da herança e vai embora, depois de gastar tudo, ficar na miséria e arrependido, volta para casa, e o pai  o recebe de braços abertos, lhe devolve a autoridade que possuía antes, fazendo uma grande festa para mostrar para todos que o filho voltou. E o irmão mais velho, diga-se o que possuía mais direitos, indigna-se com isso e questiona seu pai: “eu estou sempre aqui, te ajudando, e nunca me deu nenhum novilho pra comer com meus amigos, e esse vai e perde tudo que você deu pra ele, e volta miserável e você lhe faz uma festança.” O pai o responde dizendo: “Você está sempre perto de mim, tudo que eu tenho você tem direito, é seu, mas ele, ele estava perdido e foi resgatado, estava morto e reviveu”  (Lucas 15:11-32) (veja o artigo sobre essa parábola clicando aqui)

Essas parábolas são profundas e com seus significados específicos, mas neste texto vamos focar  apenas o quanto elas são similares e se complementam.

#OVELHA PERDIDA:

Na primeira parábola, uma ovelha se perde do rebanho, provavelmente no meio de um pasto ou campina enquanto se alimentava.  É como uma metáfora para alguém que está perdido do lado de fora mas não sabe que está perdido, até que alguém venha e o resgate, e assim, depois de resgatado percebe que houvera se perdido.

Considere que nos tempos em que foi contada, um rebanho de 100 ovelhas era considerado muito grande, mas o responsável por elas foi atrás de uma única ovelha, que uma vez perdida não conseguia por si só encontrar o caminho de casa. Se o pastor dela não fosse atrás dela, ela jamais voltaria, e uma vez perdida e sozinha corria alto risco de vida

Quando encontrada, o pastor convida seus amigos para festejar com ele, pois encontrou-a. Leia o texto com eloquência e entenderá: “Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha”.

É o que o pastor fala na parábola, mas se você ler com fluência, perceberá uma mensagem ali para os fariseus, era como se Jesus falasse: “Eu não estou na festa deles, eu não estou comendo com eles, eu é que sou o dono da festa, e essas são as minha ovelhas que eu resgatei, venham e festejem comigo por eu ter resgatado elas”. O final da parabola é como um convite aos ali presentes.

#DRACMA PERDIDA

Na segunda parábola, temos uma dracma perdida dentro de casa. Uma dracma correspondia a um dia de trabalho. A mulher possuía 10 dracmas, dez dias de trabalho. Não é muito, mas pertenciam a uma mulher, o que pode indicar diversas interpretações sobre a importância delas. POderiam ser as moedas de um dote, e sendo assim eram usadas como enfeites em um colar ou em um pano que adornava a cabeça; poderiam ser as economias de uma viúva; etc… O importante é que a perda de uma dessas moedas causou uma grande ansiedade na mulher, que remexeu a casa toda até encontrá-la. Observe que a mulher sabia que a moeda estava dentro da casa, sabia onde procurar.

Uma dracma perdida dentro de casa, como aqueles que se perdem dentro da sua religião, denominação, igreja, etc…. Está dentro do lugar onde deveria estar, mas está perdido, e não tem consciência de que está perdido. Está em um looping infinito de rituais, sacrifícios, holocaustos, dogmas, regras e mais regras…. (quase um fariseu). 

Quando ela acha a moeda, chama as vizinhas e diz “Alegrem-se comigo porque achei que tinha perdido”. Novamente Jesus falou sobre a festa que foi motivo de crítica dos fariseus.

# O FILHO PERDIDO

Na terceira, temos dois perdidos….o filho pródigo, que se perde e SABE QUE ESTA PERDIDO, saiu de casa, gastou tudo que levou com ele, chafurdou na lama, viveu com os porcos, o que era indigno pra um judeu,  mas voltou arrependido; E temos também o filho mais velho que ficou ali, nunca saiu, mas se perdeu nas responsabilidades e esqueceu que possuia tambem direitos, precisou por um momento ser também resgatado, no seu devaneio de indignação contra seu irmão. Me perguntou o que aconteceria se seu pai não houvesse conversado com ele naquele instante, será que ele teria sido pedido no ódio e na raiva?

Por ser uma parábola grande e com vários pontos importantes, escrevemos um artigo sobre ela. Se quiser conhecer mais do Filho Pródigo, clique aqui.

Assim como na parábola do Filho Pródigo, não sabemos a resposta do filho mais velho, Lucas também não indica o que aconteceu ao final, qual foi a reação dos fariseus. Mas é nitido que usando as parábolas, Jesus mostrou o arrependimento sincero daqueles que estavam à mesa com ELe, e convidou os fariseus para alegrarem-se junto. Conhecendo a fama dos fariseus, é de acreditar que eles recusaram o convite. E você recusaria?

#FESTANÇA

As três parábolas terminam com os resgatadores dando uma festança por terem encontrado o que estava perdido, e chamando as pessoas a entrarem na festa. Mas note que as duas primeiras parábolas (Ovelha Perdida e Dracma perdida), terminam com o narrador, no caso Jesus, afirmando que há uma grande festa no céus quando um perdido se arrepende e é encontrado, mas a parábola do Filho Pródigo não tem um final, o texto termina sem a resposta do filho, se ele vai ou não entrar na festa, e o narrador, Jesus, não afirma o mesmo que afirmou no final das demais parábolas, sobre a festa no céu. Essa parábola termina com o pai ainda conversando com o filho mais velho “…era preciso que nos alegraremos e fizéssemos essa festa, porque o seu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado” (Lucas 15:32)

Jesus termina as três parábolas dando importância para aquele momento em que estavam ali, onde os publicanos e os ‘pecadores’ comiam com Ele. Uma festa de arrependimentos sinceros, pois os que estavam perdidos foram achados. 

#PERDIDOS

Os perdidos na vida, que não sabiam que estavam perdidos e que precisavam de ajuda para encontrarem o caminho; Os perdidos dentro das religiões, no lugar certo mas totalmente perdidos, e sem saber que estavam perdidos; Os perdidos na vida, que uma vez estiveram no lugar certo, mas acabaram saindo e se perderam, e que sabem que estão perdidos mas tem medo de voltar, alguns que precisam de ajuda para superar o medo, e outros que com o tempo encontram o caminho de volta pra casa; e por fim: os perdidos dentro  das responsabilidades, estão no lugar certo, estão até fazendo as coisas certas, mas estão tão focados em só fazer, fazer, fazer, que se perdem dentro das tarefas e precisam de ajuda para se encontrarem dentro de si.

Não importa em qual perdido você está. Existe um Resgatador pronto pra dar uma festa por você!

 

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *