O Deus Único e o Egito

Quando estudamos o Egito Antigo nos é ensinado sobre o panteão de deuses egípcios, e assimilamos assim que em toda sua história, e é uma história bem grande, o Egito foi politeísta. Mas esta afirmação é errada, por um período de tempo determinado o Alto e o Baixo Egito cultuaram um único Deus, mas que Deus foi esse que revolucionou a vida dos nossos amigos nas marges do Nilo?

Começamos em cerca de 4500 anos atrás, Heliópolis (atual cidade do Cairo) era o centro da religião egípcia, que tratava da criação através de 9 deuses, cada um com sua característica e propósito.
O principal deles era o deus Atum (conhecido como Rá o deus sol), que foi auto-gerado dentro do Num (oceano do caos).
Durante a criação do universo e Terra Atum então criou os 8 deuses restantes: Shu, Tefnut, Geb, Nut, Isís, Osíris, Seth, Néftis. Juntos os 9 formavam a enéade de Heliópolis.
A eles era agregado Hórus (ou Heru), que basicamente era a representação do faraó e/ou da raça humana.
Com o passar das dinastias, nossos amigos egípcios começaram a descobrir mais deus para sua crença, e a lista começou a ficar bem grande. Para cada coisa no universo de um egípcio antigo existia um deus, todos sob o julgo do grande Rá (Atum).
As coisas começaram a ficar confusas e surgiu o nome Amón (o oculto), que era adorado em Tebas junto com outros 7 deuses locais.
Em determinado momento da história, a dinastia que assumiu o poder faraônico era natural de Tebas e como todo o bom filho da sua terra, o faraó decidiu mudar a capital para sua região (localizada no Alto Egito). E para assegurar o oculto Amón, ele foi relacionado a Rá (Atum).
Mas cerca de uns 1000 anos A.C. um faraó chamado Amenófis IV decidiu fazer uma reforma religiosa, e mudar completamente a vida do seu povo. Poucos de nós sabemos quem é esse tal Amenófis IV, a maioria de nós o conhecemos como Akhenaton, ele quis mudar até de nome em homenagem a sua nova crença.
Aton, o novo nome de Deus era agora o único, o todo poderoso, o onisciente, onipresente e onipotente Deus do Egito.
O Egito virou pseudo-monoteísta aqui. A lei era que todos abandonassem o politeismo pregado por milênios e adorassem apenas à Aton.
Ele era representado como um disco solar, fonte de energia da vida terrena, seu símbolo eram raios terminando nas mãos que seguravam a chave do Ankh (cruz ansata considerada símbolo da vida).
Até Akhenaton os deuses egípcios eram mais ligados ao cotidiano egípcio. Mas Aton se tornou de fato o Deus do universo visível, o único Deus.
Existem indícios que datam o único deus Aton anteriormente a Akhenaton, ainda no reinado de Amenófis III, mas foi Akhenaton que reformou a política e a religião de seu reino através da crença do único Deus.
Ele fez mais do que destituir os deuses anteriores, ordenou a desfiguração de todos os templos de Amon e dos deuses antigos, até a palavra “mãe” foi abolida e passou a ser escrita de outra forma, pois o som do seu fonema da palavra “Mut” uma deusa de Tebas. Inclusive a palavra “deuses” foi proscrita, não poderia ser falada em voz alta.
O real motivo dessa mudança radical não foi descoberto, acredita-se que Akhenaton estivesse mesmo de saco cheio dos deuses de Tebas. Mas tudo o que a história nos diz a respeito da motivação de Akhenaton é suposição.
Fato é que ele enfrentou todo o Baixo e o Alto Egito e uma leva gigantesca de sacerdotes e pessoas descontentes, para erguer-se prostrado diante de um único Deus. Se esse tal de Aton era o ‘Grande Eu Sou’, o mesmo Deus que chamou ao pai do judaísmo e islamismo, Abraão, não sabemos. Mas algumas de suas características são similares.

Akhenaton morreu quando seu sucessor ainda era uma criança de 8 anos, Tutancâmon, e mesmo sendo tão imaturo, seu filho subiu ao trono, sob a liderança de sacerdotes que possuíam interesses diversos. Um destes interesses era retomar o controle sacerdotal que possuíam antes da reforma de Akhenaton, então assim o protocolo de Aton foi expurgado pela comitiva sacerdotal que através do nome do novo faraó dominou o Egito.
Os templos de Aton recentemente construídos foram totalmente desmontados e todas as inscrições sobre o grande deus Aton foram desfiguradas.
Após a morte de Tutankamon, o medo do retorno da fé no deus monoteísta ainda era tamanha que seu sucessor decidiu apagar os registros históricos de Akhenáton, Semenchkaré, Tutancâmon e Ay.

Quando lemos a história de Abraão, seja no judaísmo ou no islamismo, notamos que ele, sua esposa e sua comitiva passaram um bom período no Egito, inclusive sua esposa Saraí viveu parte deste período dentro do próprio palácio real, próxima ao faraó. (confira a história de Abraão neste link).
Seria o faraó desta história, nosso amigo Akhenaton?
O que o faraó da história de Abraão aprendeu com a monoteísta Saraí?
Uma revolução as vezes começa com uma única palavra que chega ao coração de uma pessoa. Poderia a comitiva de Abraão ter despertado a revolução pseudo-monoteísta do Egito?

Mesmo tendo sua história quase completamente apagada, o nome de Aton pode ter chego a Moisés, como sugeriu Sigmundo Freud em seu livro “Moisés e o monoteísmo”. E aí sim teríamos um ciclo interessante, o pai dos hebreus levando um Deus único para um Egito que anos depois, mesmo tendo sua história quase apagada completamente, apresentaria esse Deus único a outro hebreu criado como egípcio que causou outra revolução monoteísta no mesmo Egito.

Crer é uma palavra de vários significados. Um deles, talvez o maior é Considerar Possível.

Akhenaton creu e revolucionou.
Abraão creu e revolucionou.
Moiśes creu e revolucionou.

Façamos nós a revolução agora!

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