A bíblia cristã em seus 4 Evangelhos, conta a história de um tal Jesus. Existem muitos pontos interessantes e surpreendentes na sua caminhada. João, um dos escritores, até diz que esse tal Jesus já existia muito antes de todo o nosso universo ser formado. Os relatos dos 4 escritores tratam de milagres, parábolas, e feitos impressionantes. Porém o que hoje queremos tratar aqui é sobre a parte final da história, como ela acaba?
#PARA ÍNICIO DE CONVERSA
Sabemos que Jesus foi morto, traído por um discípulo que o entregou aos saduceus. Mas alguns minutos antes, na noite daquela fatídica quinta-feira, e antes da chegada do traidor, Jesus estava no Monte das Oliveiras, e distanciou-se um pouco de seus discípulos a fim de ficar sozinho para orar, o relato é de tristeza. “ Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.” Lucas 22:42-44
A medicina chama essa condição de soar sangue de hemitidrose, está ligada ao alto grau de estresse psicológico. A ansiedade extrema ocasiona a liberação de produtos químicos no corpo que rompem os vãos capilares nas glândulas sudoríparas. E como consequência, essas glândulas sangram, e o suor brota na pele, misturado com sangue.
Logo após essa cena, aparece Judas, o traidor. Jesus é preso pelos lideres do sinédrio (vale lembrar que nem todos os lideres queriam calar Jesus, existiam alguns poucos que o admiravam, leia mais sobre os saduceus clicando aqui). E estes não podendo julga-lo sob suas leis, pois não havia como incrimina-lo, o levaram até Herodes, governador da Galileia. Herodes, não quis condená-lo diretamente e o mandou levarem para o poder romano, para que assim fosse condenado por algum tipo de crime das leis romanas, e fosse ‘removido’ do caminho judeu, como se remove uma pedra do sapato.
Pôncio Pilatos, governador da Judeia, não o condenou, quem fez isso foi o próprio povo. E seguindo a regra, restou a Pilatos enviar Jesus para morte de cruz, praxe dos romanos! Podemos ver no Evangelho de Lucas 23:1-25 que Pilatos demonstra o quanto não quer matar Jesus. E nos outros evangelhos mostra que ele primeiramente o envia para o flagelo(chicoteadas) a fim de tentar persuadir o povo a não crucifica-lo. Tática que não surte o efeito esperado.
#O ÍNICIO DO FIM
Jesus então foi chicoteado severamente na noite de quinta-feira.
Os açoitamos romanos eram brutais, total de 39 chicotadas, mas geralmente os soldados ultrapassavam o número. Eram aplicadas desde a nuca ate as pernas. Um chicote de couro trançado com bolinhas de metal amarradas. Quando o açoite atingia a pessoa, nas primeiras chicotadas essas bolinhas causavam hematomas e ao receber a próxima chicotada esse hematoma se abria. Junto com essas bolinhas de metal, haviam ossos afiados presos ao couro do chicote, e essas pontas afiadas abriam cortes profundos na carne, chegando a deixar em alguns casos até a espinha exposta.
Um historiador do ano 300, Eusébio, escreveu: “…as veias do sofredor ficam abertas, e os músculos, tendões, e órgãos internos da vitima, ficam expostos”. Algumas pessoas morriam neste processo, e quem sobrevivia acabava entrando em choque hipovolêmico (pouco volume de sangue no corpo). É importante falarmos desse choque hipovolêmico, ele causa 4 coisas no mínimo:
- O coração se esforça para bombardear mais sangue, mas não tem mais sangue pra enviar.
- A pressão sanguínea cai, causando possíveis desmaios.
- Os rins param de trabalhar corretamente.
- A pessoa fica com muita sede, porque o corpo pede por líquidos para repor o sangue que perdeu.
Após os açoites vem a crucificação. Jesus é levado pelos romanos para o lugar onde ocorriam as mortes de cruz. Era um lugar alto, onde um público comum poderia acompanhar a morte. A bíblia cita o monte Calvário (Gólgota), a arqueologia ainda não consegue afirmar a localização exata deste monte. Fato é que entre o Pretório, onde Jesus foi chicoteado e o monte onde ele foi crucificado havia um caminho a percorrer.
As vitimas da cruz eram obrigadas a carregar a viga onde seriam crucificadas. Isso era uma forma de o exército romano mostrar a população que aquela pessoa estava sendo condenada, e que esse era o destino de quem enfrentava o poder romano.
Carregar o objeto a ser usado para sua própria morte era uma forte humilhação que o condenado era obrigado a passar. Bem se você considerar que a pessoa iria morrer, a humilhação seria algo que nem faria diferença para o humilhado a ser morto, o problema era para quem ficava! Seus familiares, seus amigos, aqueles que eram próximos do condenado, eles também eram humilhados nesse ato. Todos ficavam sabendo que Fulano de Tal era pai, mãe, irmão, etc daquele que carregou a cruz. A humilhação romana era algo muito forte neste ato. E se falarmos de Jesus, ele tinha sua família, seus discípulos e centenas de seguidores, que estavam sendo indiretamente atingidos neste ato. Já pensou nisso?
A madeira vertical da cruz já ficava fixada no chão do local onde seria a crucificação, portanto oque Jesus provavelmente carregou não era a cruz em si, mas a madeira onde ele seria pregado, a viga que faz a parte horizontal da cruz.
Jesus já estava em choque hipovolêmico quando carregou a cruz. Quando Simão Cirineu o ajuda, Jesus não esta mais em condições de carregar a cruz, e não é apenas pelo peso dela, e sim devido aos efeitos do choque hipovolêmico.
#O FIM
Então chegamos ao local da crucificação. E ele provavelmente foi deitado de costas sobre essa viga onde seus pulsos foram pregados. Geralmente eram pregos grandes de 15 cm, que eram colocados nos pulsos que eram mais firmes do que as mãos, pois se fossem no meio das mãos como a maioria das pinturas de Jesus mostra, o peso do corpo dele rasgaria a carne da mão e ele cairia da cruz. Na linguagem médica antiga, os pulsos eram considerados parte das mãos, por isso os antigos textos fazem referencias a pregos nas mãos, porém eram nos pulsos.
O prego atravessava o nervo que vai ate a mão. É uma dor inimaginável, foi inventada uma palavra “dor excruciante” que significa dor similar à dor de morte de cruz, justamente porque não havia uma palavra que pudesse descrever esse tipo de dor.
Após ter os pulsos pregados, Jesus foi erguido com a viga horizontal, para ser fixado na viga vertical, e teve seus pés pregados nela. Os pregos dos pés também atravessavam nervos e causaram uma dor parecida com a das mãos.
Em 1968 foram encontrados restos mortais de 36 judeus mortos na revolta que ocorreu no ano 70 d.c.. E neles foram encontrados alguns pregos de 17 cm, em um deles inclusive ainda havia pedaços de madeira de oliveira, o que é uma evidencia excelente para corroborar o formato de crucificação relatado nos evangelhos.
Bem, a posição de crucificação causa alguns traumas no físico do corpo. Os braços ficam esticados, os ombros saem do lugar, as juntas se distendem, em alguns casos chega a distender 15 cm. Esse processo não chega a quebrar nenhum osso.
Aqui é importante a leitura do Salmo 22. Ele é um salmo de Davi, e soa como uma profecia do sofrimento e vitória do Messias. Em especial os versos:
22: 14> “Derramei-me como água, e todos os meus ossos de desconjuntaram. Meu coração fez-se como cera, derreteu dentro de mim.” (aqui você vê a distensão, e também o efeito do choque hipovolêmico no coração).
22:16> “… transpassaram-me as mãos e os pés”
22:17> “posso contar todos os meus ossos” (parece um martírio de dor, mas considere que é possível interpretar nenhum osso quebrado, todos estão ali ainda)
Davi escreveu esse salmo 1000 anos antes de acontecer. Os romanos nem existam.
O verso 17 desse salmo é importante. Em João 19:32,33 a testemunha ocular diz que os soldados romanos quebraram as pernas dos dois ladroes que estavam ao lado de Jesus, assim eles morreriam mais rápido, mas não quebraram as de Jesus. E João diz “Porque isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: Nenhum dos seus ossos será quebrado.” João 19:36 .
Existem outros salmos que falam sobre nenhum osso ser quebrado, mas esse salmo 22 é um salmo que Davi escreveu exclusivamente para o Messias (que viria dali a 1000 anos).
Voltando a crucificação: Na cruz ele pede água, pois a sede passa a ser insuportável. E isso é mais um indicio do choque hipovolêmico. (leia um ótimo artigo sobre esse momento clicando aqui).
Falando mais do choque hipovolêmico. Em João 19:34 diz: “Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.”
O choque hipovolêmico (a perca de sangue das chicotadas) causa uma condição especifica. Trata-se de um acumulo de liquido na membrana que envolve o coração e o pulmão, esse liquido não é água, porém é transparente como se fosse. É uma condição que se chama efusão pericardial (do coração) e efusão pleural (dos pulmões)
É importante ressaltar isso, pois como descrito em João, um soldado romano para ter certeza que Jesus estava morto, se aproximou e enfiou uma lança no seu corpo, pela descrição foi entre as costelas, a lança provavelmente perfurou o pulmão e o coração, e quando retirada saiu um liquido, o liquido da efusão explicada acima, e sangue.
No livro de João, quem relata esse trecho é sem duvida uma testemunha ocular do fato. Ele viu acontecer. É claro que hoje sabemos dessas condições da efusão pleural e pericardial. Porém para uma pessoa da época, mesmo se possuísse alguns conhecimentos médicos, o que não é o caso de João, essa condição era desconhecida. Portanto é possível afirmar que o relato desse trecho do livro de João foi real, e contado por uma testemunha ocular.
#E ENTÃO CHEGAMOS NO MOMENTO FATAL
Uma morte de cruz é um processo de morte lenta, de grande agonia. A pessoa morre por asfixia, a tensão dos músculos do diafragma deixa o peito sem conseguir e exalar o ar inalado. Em geral uma pessoa crucificada precisava se erguer, usando os pés (que estavam pregados) para aliviar o tórax e poder exalar e inalar novamente, e fazendo isso esfregava suas costas machucadas na madeira da viga, e sentia mais ainda a dor dos nervos por onde os pregos passaram. Em alguns minutos a pessoa acabava ficando sem forças de continuar o procedimento, e a respiração voltava a ficar mais baixa, com a queda de respiração o dióxido de carbono não conseguia ser expelido do pulmão e entrava no sangue, fazendo a acidez do sangue aumentar, como consequência disso o coração passaria a bater de forma mais irregular ainda.
Jesus deve ter sentido o descompasso do coração, e por isso entendeu que estava chegando a hora da morte. Sabendo que o momento era esse, suas ultimas palavras foram: “…Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” E, havendo dito isto, expirou. Lucas 23:46
# SERÁ?
Algumas pessoas já tentaram lançar duvidas quanto possibilidade de que Jesus sobreviveu à cruz, alguns especulam até que quando foi-lhe dada uma esponja com vinagre, na verdade seria um sonífero para que ele parecesse morto para ser retirado da cruz, e portanto o relato de ressureição seria apenas, porque ele após a cruz foi retirado ainda vivo, e posteriormente na sua tumba acordou e saiu.
Mas é muito claro, muito mesmo, que ninguém sobreviveria a toda essa tortura vivida por ele. E não conseguiria erguesse de pé, muito menos andar uma longa distância entre seus discípulos como os relatos escritos sobre a caminhada em Emaús, descrita em Lucas 24:13-31
O doutor legista Metherell foi entrevistado pelo jornalista Lee Strobel sobre o assunto, e disse “não há nenhuma possibilidade de ele ter sobrevivido à cruz”.
O interessante dessa entrevista vem logo em seguida Metherel continua: “Alguém com a aparência tão destruída jamais teria inspirado seus discípulos a sair e proclamar que ele é o Senhor da vida que triunfou sobre o túmulo. Você entende o que estou dizendo? Depois de sofrer maus tratos tão terríveis, com a perda de sangue catastrófica e trauma, sua aparência seria tão deplorável que os discípulos jamais o teriam proclamado como vencedor da morte; teriam ficado com pena dele e tentado cuidar dele ate que recuperasse a saúde. Por isso, é um desproposito pensar que Jesus apareceu nesse estado horrível, seus seguidores não teriam se sentido motivados a começar um movimento mundial baseado na esperança de que um dia teriam um corpo ressuscitado como o dele. Não há hipótese.”
O que o medico legista disse ao jornalista é que basicamente Jesus morreu, os relatos comprovam isso quando comparados com a medicina moderna. E que existem evidencias de uma ressureição, mas falaremos da ressureição em outro artigo.
No inicio da historia da sua morte, Jesus não resistiu a sua prisão, não se defendeu em seu julgamento e se submeteu voluntariamente a humilhação e a toda a tortura. Ele foi traído por um de seus discípulos, mas é notório que Jesus caminha até o traidor, sabendo o que estava por vir. Por quê?
A única resposta que encontro é AMOR.
Você amaria alguém de tal maneira?
Saiba então, que você é amado assim!
ALGUMAS REFÊRENCIAS:
REVISTA GALILEU. Edição Junho 2018. Arqueologos encontram raro indicio do ritual romano.
STROBEL, Lee. EM DEFESA DE CRISTO. 1998. Editora Vida.
Evangelho Segundo Lucas. Capítulo 22, Capítulo 23 e Capítulo 24.
Evangelho Segundo Marcos. Capítulo 14, Capítulo 15 e Capítulo 16.
Evangelho segundo João. Capítulo 18, Capítulo 19, e Capítulo 20.