A genética da fé

Em 1975, após analisar grupos de pessoas em atividades de relaxamento do médico Herbert Benson, onde as pessoas que possuam alguma crença espiritual obtinham melhores resultados, o neurocientista Rhwan Joseph concluiu que “a habilidade de ter experiências religiosas têm uma base neuroanatômica”. Isto é, temos religião dentro da nossa cabeça. E Benson enfatiza: “Nossa planta genética faz da crença em um Infinito Absoluto uma parte de nossa natureza. Nossas conexões cerebrais foram feitas para Deus.”  Será?

Para quem lembra das aulas de ciência, o projeto Genoma Humano iniciou na década de 90 e finalizou em 2003, mapeamento 25 mil genes e suas funções. Uau, 25 mil!! Mas isso é pouco, o projeto esperava mapear 80 mil genes (que era o que acreditavam existir) mas finalizou-se com 31% apenas.

O projeto foi finalizado estimando que apenas 2% do material genético humano possui informações significativas ao metabolismo. Enquanto a maior parte parece não conter instruções relevantes. Mas porque eles existem, se não possuem funções?

#O GENE

No início de nosso século, o geneticista norte-americano Dean Hamer, afirmou ter mapeado o gene da fé. Como ele mesmo disse “não se trata de ‘o’ gene, mas de ‘um gene entre vários’.”

Não estamos falando de Deus, estamos falando de predisposição a acreditar, a crer.

O Gene VMAT2 foi isolado por Hamer e sua equipe no Instituto Nacional do Câncer, nos EUA, e se envolve no transporte de uma classe de mensageiros químicos do cérebro conhecidos como monoaminas, do qual o mais famoso é a serotonina, a molécula do bem-estar.

Hamer chegou à descoberta por acaso, analisando os hábitos de pacientes tabagistas, dentre os quais os que possuíam a disposição à espiritualidade. Todos aqueles que se disseram mais crentes em Deus, considerando-se mais místicos ou espiritualizados, apresentavam o tal VMAT2.

Em uma entrevista a Folha de São Paulo, uma pergunta bem direta foi realizada

Folha – O biólogo Richard Dawkins disse dos genes: “eles nos criaram, corpo e mente”. Eles criaram deus também?

Dean Hamer – Eu não posso determinar se deus é uma criação dos nossos genes ou se deus criou nossos genes para que ele pudesse ser reconhecido. Porque a biologia não pode determinar causalidade. O que podemos dizer é que nós temos genes que facilitam que pensemos em deus ou que imaginemos que exista um deus.

Ele avaliou os genes dos voluntários e percebeu que as diferenças nas respostas estavam relacionadas com as variações no gene da fé. Essas variações explicariam por que algumas pessoas são mais espiritualizadas que outras. O VMAT2, trata-se de um conjunto de genes que ativam substâncias químicas que dão significado às nossas experiência. E como Hamer disse: “Somos programados geneticamente para ter experiências místicas. Elas levam as pessoas para algo novo, ouvem Deus falar com elas”

#O CÉREBRO

Em 2016, a Super Interessante falou sobre o trabalho do grupo de cientistas liderado por Andrew Newberg, professor da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, e autor do livro How God Changes Your Brain (“como Deus muda o seu cérebro”, sem edição no Brasil), demonstrando que Deus é parte da nossa consciência: quanto mais pensamos nEle, mais nossos circuitos neurais são alterados.

Ele mediu imagens cerebrais de pessoas rezando e budistas meditando, e detectou diminuição de atividades na zona que dá o senso de personalidade (quem somos) e aumento nas áreas relacionadas às emoções e comportamentos, o que representaria segundo ele a possibilidade de atingir um estado em que se perde a noção de individualidade “Você se torna um único ser com Deus ou com o Universo”.É, basicamente, o mesmo descrito por Hamer.

“Ao povo que formei para Mim, para celebrar o Meu louvor.” Isaías 43:21

A ciência vai mais além, em 2012 Maria Beatrice Toro, psicóloga e psicoterapeuta, publicou um artigo no International Journal of the Psychology of Religion, onde enfatiza que a situação neurológica correspondente à experiência espiritual é mais complexa do que haviam pensado os primeiros estudos, citados acima.

As áreas envolvidas na experiência de crença são múltiplas.

Em seus estudos ela comprovou que a atividade do lóbulo parietal direito realmente diminui, mas que outras áreas estão envolvidas nessa completa operação, sendo o lóbulo frontal e também zonas subcorticais.

Sabe aquelas pregações cristãs que dizem “que eu diminua, e que Deus cresça” poisé, esse é um efeito que vai além do espiritual, ele também pode ser fśico.

A principal função do lóbulo parietal está na interpretação da posição do corpo  de acordo com os outros objectos nas suas imediações. Mas o lóbulo parietal direito inclui a interpretação de informações espaciais e regulação da personalidade, enquanto o lóbulo parietal esquerdo inclui a capacidade de entender os números, a manipulação de diferentes objetos e realizar tarefas de escrita. Segundo o estudo da química cerebral de Maria B. Toro, o lóbulo parietal direito tem a atividade minimizada, enquanto o lóbulo parietal esquerdo não é afetado,  o que poderíamos dizer, garante o livre arbítrio, pois a capacidade de discernimento e processamentos de determinadas informação se mantém, e a experiência de individualidade produzida pelo lóbulo direito minimizada, diminui a orientação no espaço e no tempo, dois elementos que, na experiência da meditação profunda e da oração, desaparecem, conforme descrito por pessoas de diversas religiões.

Mas Maria fala do lóbulo frontal, que por bastante tempo foi considerado uma estrutura sem função, mas hoje sabemos que além de ser bastante amplo e se encarregar de muitas funções, como os movimentos da boca, o córtex pré-frontal se encarrega do caráter, do controle das emoções, da iniciativa e do julgamento do indivíduo, e considera-se que a atividade fundamental desta região cerebral é a coordenação de pensamentos e ações de acordo às metas internas, estabelece diferenças entre pensamentos conflitantes, realiza julgamentos sobre o bem e o mal, prevê as consequências futuras de atividades atuais. Também administra o trabalho conforme metas determinadas de antemão, realiza previsão de resultados, cria expectativas e participa no controle de impulsos em entornos sociais inibição de comportamentos inadequado. O que vejam só, é muito similar a descrição do padrão ético moral de pessoas “espiritualizadas”.

#CIÊNCIA OU CRENÇA?

Isso tudo tem um nome, é a “neuroteologia”, que nos mostra existir uma função de uso geral do cérebro, que de acordo com a predisposição de alguns genes, determina o sentido de conexão com o transcendente.

Vale lembrar que espiritualidade e religião significam coisas diferentes, e que o estudo não está ligado aos ritos de determinadas religiões, e sim a fé, ao acreditar mesmo sem ver como diria Paulo de Tarso.

Certa vez um grande Ser disse: “Eu asseguro que, se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: ‘Vá daqui para lá’, e ele irá. Nada será impossível para vocês.”

Este artigo mostrou que o significado da fé também pode ser científico. Cientistas que tiveram fé em seu trabalho. Estes homens demonstraram que um conjunto de reações químicas é capaz de alterar crenças e comportamentos, ou que a crença pode alterar as reações químicas e comportamentais?

Como diria a propaganda da TV Futura: Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas!

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